aos vinte e um

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Minha querida e amada filha,

Você completa vinte e um anos, a despeito da vontade de continuar com oito, nove ou doze, mas nunca acima dos quinze. Você virou a Menina Que Pulava Anos mesmo sem perceber, mesmo sem planejar. Pulou da infância para a vida adulta num longo e infinito picar de olhos. Nesse dia, um grande ciclo se encerra e outro, mais longo e definitivo, começa. Nunca fui bom nessa coisa de “vida adulta”, mas posso tentar passar algumas dicas, alguns aprendizados.

  1. O Mundo não irá mais lhe tratar com ternura, exceto quando ele quiser alguma coisa de você. Ele entende que você já está pronta para a Vida. E um dia irá pegar de volta tudo que lhe deu. Essa é a primeira lição que você deverá carregar no coração: tudo termina, tudo volta para O Mundo.
  2. Sempre que puder, devolva o amor que receber e o afeto que te derem. As Pessoas precisam se ajudar o tempo todo, ainda que não saibam disso. Muitas vezes, a mão precisa ser oferecida discretamente, para não assustar a quem ajudamos. Essa é a segunda lição: ajude Às Pessoas, mas não faça alarde.
  3. Essa lição é mais duvidosa, mas duvide bastante do que lhe falam ou ensinam. Nem tudo é o que parece, nem sempre conseguimos falar o que é. O Sol é maior que as três letras ou o emoticon que o representa. A Língua é limitante. O não-dito tem muito valor.
  4. A última lição é também complicada. A gente deixa muita marca no mundo. É a nossa eterna briga com a finitude do nosso tempo. O problema é que nem sempre essas marcas são boas ou frutíferas. Então a dica é: se for para deixar algum legado, que seja de Amor. Ele une, integra e faz com que sejamos maiores que nós mesmos, sempre respeitando o que fomos.

De resto, saia, curta e viva. Você nunca mais terá um hoje como hoje. O agora nunca retornará.

De seu pai, que teima em escrever.