Se conheceram numa festa, dessas que hoje chamam de Ping-Pong(r) ou Adams(r) ou coisa parecida. Nada de mais, nenhuma história especial. Era amiga de um amigo de uma ex-namorada de um primo. Tava todo mundo lá e ele quase que não ia. O ficante da menina pipocou antes de ir para a festa e sobrou um convite. Ele topou. Tava de bode, curtindo uma dor de corno pq a ex-namorada tava já com um outro. “Porra nem esperou o defunto esfriar!” “Cara, tem três semanas já!” “E daí? Por um acaso saí passando o rodo no dia seguinte?” “Não, seu babaca, tu já tava passando o rodo antes. Uns seis meses antes.” “Porra, isso não tem nada a ver!” “Como não? Tu chifrava a menina a torto e direito e agora vem exigir que ela fique de luto pelo fim do namoro? Tu não dava a menor bola para ela e é isso aí. Vem um terceiro e rouba. O ladrão tá ali, do lado das meninas para garfar quando malandro dá mole.” “Ah! Num ferra! Tô puto e tá acabado!” “Deixa de ser babaca e vamos na festa! Vai ser maneira!” “PORRA! Como é que uma festa com Paquitas vestidas pode ser maneira?” “Deixa de ser escroto e põe logo uma roupa. Passo aí em 10, beleza?” “Tá bom…”
Chegou, viu a galera, não gostou de cara. Muito cheio, entrada cara, cerveja ruim, muito barulho, não dava para tomar bala. “Quer uma cara?” “Olha a sujeira, deixa de ser mané! A festa tá visada para caralho!” “Porra! Já vi que vou ficar puto!” Foi pro banheiro dar a primeira mijada da noite. Conseguiu um canto mais discreto e mandou uma meia-estrela pra dentro. Comprou um Red Bull(r) e começou a quicar na pista. Pisou em vários pés, derrubou uma menina e quase começou três brigas. Foi expulso da festa.
Chegou em casa, ligou o computador. “Caralho! Não vou dormir! Tô muito aceso! Puta que pariu!” Acessou o Orkut e viu um recado para si. “Te vi na festa. No início te achei um gato. Depois caiu a máscara e saiu um babaca. Não sei por qual dos dois me encantei mais. Me liga!” Era ela. Mal sabia que iria cortar os pulsos muito em breve por nao conseguir suportar tanto amor.
Ligou no dia seguinte e marcou um encontro achando que iria encontrar uma baranga-mor. As fotos não mostravam muito, mas baseou-se no relato do primo do amigo do colega do(a) ex- que disse que ela era muito gata. Inexplicavelmente tomou um banho antes de sair de casa e até escovou os dentes.
Pegou o carro, passou na casa dela que era a três quadras dali. “PORRA! Tu vai de carro para a casa da menina?” “É que se ele for gata, já arrasto pro motel!” “Caralho, cara. Tu tá pensando o quê?” “Ué. Se ela não sabe o que é, não deve temer; se já conhece, acostumou, né?” “Puta que pariu! Só você mesmo!” Parou, ligou, buzinou e tava quase indo embora quando a menina abre a porta da portaria três minutos e quinze segundos depois do primeiro contato. “Você chegou mais cedo.” “Tava ansioso para te ver, minha flor!” A menina realmente era um espetáculo. Mignonzinha, cabelos negros, escorridos ao longo do corpo, chegavam à cintura. Cintura que, de tão fina, parecia que ia partir numa freada mais brusca do carro. Ancas respeitáveis. “Boa parideira!”, pensou. Seios pequenos e firmes já que não usava sutiã. Bom. Ia ser uma bela duma foda.
E foi uma bela duma foda. A melhor da vida dele. A última.
Duas semanas mais tarde, estava ligando três vezes por dia para a menina, catando contatos na internet, deixando “scraps” pagando o maior mico digital que uma pessoa conectada jamais poderia pagar. Cometeu uma dúzia de poemas de 1k e gastou uma fortuna em presentes que mandava entregar na casa dela.
Nada movia a atenção da menina.
Resolveu estreitar os contatos com todos com quem podia para fazer um “cerca lourenço” na vida dela. Os conhecidos todos desapareciam. Os olhos de desespero afastavam qualquer chance de ajuda. Afinal de contas, nunca cultivara uma amizade, apenas conhecidos, kálegas de farra.
Já estava no limite quando resolveu acampar em frente da casa da menina. Não era difícil, o apartamento dava vista para a entrada do prédio e ele tirou uma semana de férias para ficar de butuca. Ganhou uma demissão já que nem se concentrar no trabalho conseguia mais. “Melhor. Dá para ficar mais tempo em casa na vigia.” Com a grana da recisão comprou um binóculo noturno e um normal. Um frigobar e uma poltrona confortável.
Não precisou esperar muito. Na segunda noite viu a menina se despedindo de outra. Com um beijo na boca. Outro beijo. Mais um. O negócio estava esquentando. Subiram.
Desceu como um louco as escadarias do prédio, correu a distância entre os quarteirões num pique só e se prostou na entrada da casa da menina. Esperou a noite inteira. Viu a outra sair pela manhã mas não se abalou.
Quando ela saiu – “Linda, linda com a luz da manhã!” – ele a interpelou. “Por quê?”, só conseguia dizer isso. “Patético.” Deu um beijo na boca dele com um sorriso malvado e subiu a escadaria.
Ele voltou para casa e, súbito, sabia o que lhe restava.