E mais um ano finda, mais uma mensagem nos chega

Estou publicando mensagens que fecham o ano há oito anos. Oito anos de um ritual pessoal que nem sempre é compreendido por quem me lê. Em 2004 comecei essa tradição individual de mensagens por conta de um sonho e um desejo de passar a viver das palavras. Mas palavras não enchem barriga, não pagam contas e esse sonho se juntou aos demais que eu tive a audácia de colocar à luz do mundo. Talvez tenha sido a coisa mais sábia que eu jamais fiz na vida: saber dar um fim a coisas que não funcionam mais.

Engraçado que esse septênio que finda coincide com o tal do “fim do mundo maia”. Engraçado duas vezes porque, em primeiro lugar, o “mundo maia” com o seu calendário já era extinto no século XV, ou seja, o seu fim já é passado há mais de quinhentos anos e, em segundo lugar, porque a mensagem que me traz a essa página em branco é a do fim das coisas.

O fim é algo que tentamos evitar todos os dias, incompetentemente. O fim do dinheiro, o fim do amor, o fim da vida, o fim da cerveja no copo, o show da banda que amamos, o livro pelo qual nos apaixonamos, o beijo sonhado, o gozo suado, o parto nervoso, a obra perpetuada. Tudo tem que acabar por motivos óbvios e claros, vivemos por conta do fim da vida de outros seres. Ganhamos dinheiro pelo fim de um período ou de um trabalho. Nascemos pelo fim de um coito, morremos no fim de um fôlego.

E ainda assim insistimos na ficção da eternidade. Temos medo de envelhecer não apenas pelo decaimento da nossa saúde, da nossa disposição, por medo de não conseguirmos mais fazer aquilo que antes fazíamos com tanta facilidade, mas porque o envelhecer é a antessala da morte, é o prefácio de uma história que ninguém consegue ler. Ou quer ler. Temos uma cultura que valoriza o novo, o fresco, o jovem, mas se esquece do passado, chamando-o de démodé, de decadente, de ultrapassado, careta, so last week. Vivemos a urgência do novo e esquecemos de nos preparar para o que é inevitável.

Divirto-me com as urgências corporativas, confesso. Normalmente são tão pouco importantes, tão pouco corporativas, tão míopes, tão inócuas. Tergiverso rapidamente para desenhar essa ilustração: o aspirante a executivo que corre atrás de algo que será esquecido, desligado ou apagado na próxima semana e corre deixando de ver as coisas ao seu redor, se irá infernizar a vida de alhures ou para parar e julgar se a sua urgência irá ter algum impacto real e positivo para a sua empresa. Vivi isso tantas vezes na minha vida profissional que custo a crer em uma urgência real. Para mim isso tudo é sintoma da falta de visão do fim das cosias. Fim enquanto objetivo e limite. Fim enquanto “chega”.

Desconfio dos artistas que falam “minha obra nunca termina”. Para mim é sinal de desconhecer o seu fim. Sempre há uma aresta a ser aparada, claro. Sempre há um texto a ser revisitado, revisado. Eu mesmo faço isso mais porque eu sou hoje uma pessoa diferente daquela que escreveu aquele texto ontem que eu ser um perfeccionista. Entendo que meus textos estão para o mundo, não são mais meus, são para quem os leem. Dei uma volta enorme com a finalidade de me fazer entender melhor. Agora posso finalizar com o desejo.


Desejo para todos que 2013 não aconteça antes de 2012 terminar. Chega de ideias estendidas como manteiga num pão, chega de projetos sem fim, chega de relacionamentos sem finalidade ou felicidade. Que tudo acabe já em 2012. Que venha logo o fim.