Sou um possuidor de um coração vagabundo. Desses desclassificados mesmo. Nunca tive medo de me atirar ao chão e pedir carinho, fingir de morto, virar a barriga para cima, olhar com orelhas caídas e olhos grandes para quem queria/fingia me dar afeto. Certa feita, menina me subornou com um beijo se fizesse eu uma cena em plena Praça Saens Peña. Não fiz a cena por vergonha – esse sentimento estúpido e inútil, especialmente a vergonha alheia – e fiquei sem. Acho que ali tracei uma linha no chão e me recusei a cruzar.
Obviamente, com a idade, as vergonhas tendem a deixar de travar a mão. Mas essas trocam de nome e passam a se chamar de “conveniência”. Pois, como se diz no mundo da moda, tudo pode, mas nem tudo convém.
Estava no chope, conversando com amigos e conhecidos (mais desses que daqueles) e, ao voltar para casa, lembrei de pessoas com quem eu queria dividir a noite, seja no papo moleque, na conversa de várzea, no papo-furado arte, ou no aconchego de lençóis da minha cama king size. Tudo armadilha da necessidade de autopsiar a minha própria melancolia. Resultado: muito chope e uma enxaqueca pela manhã.
Passam-se os dias, as inspirações para escrever, as tarefas burocráticas d’A firma, as oportunidades de ficar milionário, os 2,4km que caminho de volta para casa quase que diariamente e eu, preso em uma nostalgia das coisas que deixei de fazer.
Nem São Paulo, com seus céus azuis e seus poentes impossíveis me comovem mais.
Aí, a amiga Mariana Blanc posta no seu perfil do Orkut: “Do que são feitas as estrelas? saudade.” Se for verdade, minha estrela brilha forte, cada vez mais forte.