Suede – Trash

Maybe, maybe it’s the clothes we wear,
The tasteless bracelets and the dye in our hair,
Maybe it’s our kookiness,
Or maybe, maybe it’s our nowhere towns,
Our nothing places and our cellophane sounds,
Maybe it’s our looseness,

But we’re trash, you and me,
We’re the litter on the breeze,
We’re the lovers on the streets,
Just trash, me and you,
It’s in everything we do,
It’s in everything we do…

Maybe, maybe it’s the things we say,
The words we’ve heard and the music we play,
Maybe it’s our cheapness,
Or maybe, maybe it’s the times we’ve had,
The lazy days and the crazes and the fads,
Maybe it’s our sweetness,

But we’re trash, you and me,
We’re the litter on the breeze,
We’re the lovers on the street,
Just trash, me and you,
It’s in everything we do,
It’s in everything we do…”

Soneto: Amor, co’a esperança já perdida

Amor, co’a esperança já perdida,
Teu soberano templo visitei;
Por sinal do naufrágio que passei,
Em lugar dos vestidos, pus a vida.

Que queres mais de mim, que destruída
Me tens a glória toda que alcancei?
Não cuides de forçar-me, que não sei
Tornar a entrar onde não há saída.

Vês aqui alma, vida e esperança,
Despojos doces de meu bem passado,
Enquanto o quis aquela que eu adoro:
Nelas podes tomar de mim vingança;
E, se inda não estás de mim vingado,
Contenta-te co’as lágrimas que choro.

Luís Vaz de Camões

Eu quero isso!

Hot Wheel – Dan Lienert

We love reading about new products and designs from Bombardier, mostly because besides building things like airplanes and subway cars, the privately held, Quebec-based company also builds fun stuff like Rotax karts, Ski-Doo and Lynx snowmobiles, Bombardier ATVs, Sea-Doo sport boats and Johnson and Evinrude outboard engines.

No wonder, then, that they have produced an exciting answer to the Segway Human Transporter. Like the Segway, Bombardier’s Embrio concept–a prototype that may or may not make production–uses gyroscope technology to balance riders but adds a dash of flair absent in the Segway, which we as car nuts find slightly nerdy.

The Embrio concept also uses one less wheel than the Segway and will attract, Bombardier hopes, a younger demographic. The vehicle is designed as a guess at what transportation in the year 2025 might look like.

It is a fascinating idea because it combines the simplicity and alternative-fuel technology of forward-thinking commuting vehicles with the excitement of “recreational” products like ATVs. Indeed, the Embrio could attract people who drive a more fun sort of vehicle, what with its motorcycle-derived styling cues and, like an ATV, the fact that you have to lean in order to turn.

The Embrio is powered by a hydrogen fuel cell, a technology that creates power by mixing hydrogen and oxygen, ideally resulting in water as the only exhaust. Carmakers are also developing this technology for automobiles, and General Motors (nyse: GM – news – people ) stands by its plan to sell hydrogen cars by 2010.

The Embrio also borrows several other advanced technologies from cars, like infrared night vision and an active suspension, which can vary its damping rates based on road conditions. Its riding position resembles that of a motorcycle, and it balances one or more passengers with a network of sensors and gyroscopes. To move the Embrio, you use an accelerator trigger on the left handlebar and a brake trigger on the right.

The vehicle is made of lightweight materials, like aluminum, magnesium and nylon. It weighs only 360 pounds.

Forbes Fact
Although Bombardier says the gyroscopes are enough to balance the Embrio, the vehicle is also kept longitudinally stable by a smaller wheel that operates like an airplane’s landing gear. It touches the ground when the vehicle is stopped or just starting. Once the Embrio is in motion, the landing gear will retract when the vehicle reaches about 12 mph. During braking, the gear redeploys when the vehicle slows to 12 mph.

Donna mi priega

se amor é troca
ou entrega louca
discutem os sábios
entre os pequenos
e os grandes lábios

no primeiro caso
onde começa o acaso
e onde acaba o propósito
se tudo o que fazemos
é menos que amor
mas ainda não é ódio?

a tese segunda
evapora em pergunta
que entrega é tão louca
que toda espera é pouca?
qual dos cindo mil sentidos
está livre de mal-entendidos?

Paulo Leminski

Livros natimortos – Publicado em 01 de novembro de 2003

Affonso Romano de Sant’anna

Nesta hora, num apartamento em João Pessoa, numa casa em Cuiabá, num condomínio em São Paulo ou numa cidade histórica de Minas, um autor está olhando, desolado, um ou mais livros seus inéditos sobre a mesa. E não passa praticamente um santo ou profano dia em que não encontre autores sobraçando livros inéditos e pedindo que os ajude encontrar um editor que se interesse por eles. Dir-se-ia que isto é normal. Não é, sobretudo, quando muitos desses escritores já são autores de um, dois, três, quatro ou mais livros publicados até com alguma receptividade.

Não são, portanto, principiantes. Não são amadores. São pessoas que resolveram dedicar sua vida à escrita. Ou seja, para eles, escrever é uma opção vital. No entanto, não encontram o caminho da publicação. Alguns dizem que enviaram cópias para várias editoras. Ou não obtiveram resposta ou lhes disseram que seus livros são interessantes, mas não se encaixam na linha editorial, etc. Outros, impacientemente, pensam editar o livro por conta própria ou através de uma fundação, mesmo sabendo que a não-distribuição estrangulará a divulgação. É uma situação injusta, estagnante e produtora de necrose na alma. É desolador. Ver dois, três, às vezes sete ou dez livros inéditos em casa, olhar os suplementos, ver outros autores surgindo aqui e ali, enquanto se permanece no limbo como um estranho no ninho.

Entendam que não estou me referindo a autores ruins, iniciantes desarmados para a vida literária. Refiro-me a escritores que têm noção do ofício e já demonstraram competência.

Daí o que chamo de “livros natimortos”. E isto merece alguns desdobramentos analíticos, antes que, tentando abater a dramaticidade da situação, se diga que sempre foi assim e que em outros países ocorre a mesma coisa.

Pena que não guardei, péssimo arquivista que sou, uma reportagem sobre um fenômeno semelhante na França. Tratando de livros que jamais chegarão aos leitores, a matéria, no entanto, referia-se ao fato que isto ocorria porque a capacidade de absorção do público já estava preenchida. (Digamos que seja um pressuposto ou uma conclusão discutível, pois, pelas leis do mercado e do marketing, você cria novas faixas de consumidores mediante a persuasão publicitária). Mas o fato é que lá existe já uma boa rede de bibliotecas, livrarias e um consistente público consumidor. Contudo, o que nos interessa assinalar na diferença entre o que ocorre na França, Alemanha, Itália, Espanha, Estados Unidos, Canadá, etc. e aqui, é o fato de que, no Brasil, essa montanha de livros natimortos seria terraplanada se houvesse mais livrarias e bibliotecas e mais campanhas sistemáticas de promoção do hábito de leitura.

Editores brasileiros alegam que não podem editar tudo o que recebem, mesmo que o material seja bom. E, de certo modo, têm razão. Livreiros afirmam que se lhes dessem de graça os dois mil livros editados cada mês no país, não teriam lugar para expô-los. Outra verdade irretorquível.

Onde estão os nós da questão que afeta a todos nós? Em que nossa situação é mais patética que a dos europeus? O fato é que, no Brasil, existe um vasto espaço cultural e econômico ocioso. Produz-se para uma faixa mínima de consumidores sem nenhum projeto consistente, e de longo prazo, para alargá-la.

Quando dirigi a Biblioteca Nacional, constatamos que não entrava no orçamento dos estados e municípios qualquer verba para aquisição de livros. Pensava-se, creio, que os livros tinham pernas e sairiam andando das editoras para as estantes das bibliotecas por um heliotropismo literário. Havia, então, uns 3.000 municípios sem biblioteca. E, na maioria dos 3.500 que a tinham, a situação era precária. Portanto, é evidente a conclusão: se houvesse um programa de compra de livros pelas bibliotecas públicas, poder-se-ia dizer que todo livro médio teria esgotado sua primeira edição, geralmente de três mil exemplares. O Instituto Estadual do Livro em Porto Alegre, que edita gaúchos, esgota, só naquele estado, as primeiras edições de seus autores. A Fundação Cultural de Blumenau começa a editar os autores locais e distribui-los nas escolas. E felizmente acabo de saber que em Minas começou um projeto para implantar bibliotecas em todos os seus municípios.

Contudo, há um mistério no Brasil. Há mais editoras que livrarias. Quase o dobro. Agora, imaginem se em vez de apenas 1.500 livrarias (a cada hora surge uma estatística diferente), tivéssemos, pelo menos, 20 mil a 30 mil livrarias? Tenho por hábito perguntar, quando estou numa cidade com 100 mil ou 200 mil habitantes, e que tem faculdades e até universidade, quantas livrarias possuem. Pasmem, às vezes, só há uma livraria ou papelaria, o que torna inexplicável o modo como os alunos estudam, mesmo levando em conta as copiadoras.

Portanto, estamos numa situação patética. Um país de autores sem leitores. Um país em que o livreiro não dá conta da quantidade de livros recebidos, não porque sejam inumeráveis, mas porque a perversidade do modelo econômico está na raiz da dificuldade de acesso aos bens culturais.

Há muitas variáveis nessa questão. A globalização agravou o encantamento que nossa alma índia sente diante de qualquer espelhinho trazido pelo colonizador. Seja como for, há uma anomalia no mercado. Em termos econômicos, fala-se de ?taxa de desemprego?, ?força de trabalho? e ?demanda reprimida?. Deveríamos aplicar isto ao universo simbólico. Há um desperdício da criatividade, como se, por falta de estradas e supermercados, estivéssemos deixando estragar lavouras inteiras de soja, café e cacau. Se na ditadura reclamávamos da repressão ao simbólico, na democracia temos que cuidar da demanda reprimida do imaginário dos criadores que, em última instância, reelaboram a força criativa do povo.

Enquanto isto, num apartamento em João Pessoa, numa casa em Cuiabá, num condomínio em São Paulo ou numa cidade histórica de Minas, um autor está olhando, desolado, um ou mais livros seus inéditos sobre a mesa.


Livros natimortos-II – Publicado em 08 de novembro de 2003

Dos mais reveladores é o e-mail de Carlos Trigueiro que, comentando a crônica da semana passada, lá pelas tantas, diz: “Pasme. Nos últimos quatros anos, acertei na quina duas vezes, mas não consegui publicar três originais (dois romances e uma coletânea de contos). E, do jeito que as coisas vão, qualquer dia acerto na mega-sena! Já disse a alguns editores brasileiros que tenho recursos para montar uma ou mais editoras, porém cairia no fenômeno que você bem cita no seu artigo, e, além do mais, preparei-me para ser escritor e n&atild
e;o para editar”.

Ou seja: é mais fácil acertar na loteria que se tornar escritor, social e literariamente, reconhecido. Trigueiro, pelo menos, acerta na loteria de vez em quando. Os outros, nem isto. Brincadeira a parte, sua revelação é intrigante e instigante.

Isto bate com o que Alexandre auto-ironicamente vai dizendo na sua mensagem, ao considerar que já cansou de mandar originais para editoras, por isto pensa que “talvez devesse desistir de escrever e tentar abrir uma pré-agência literária. Seria um local onde avaliaria originais enviando os melhores para as agências literárias. Mas não daria certo. Primeiro porque seria difícil achar uma que levasse a sério minhas avaliações. Segundo porque, se achasse, provavelmente em pouco tempo estaria entupido de originais e teria que começar também a recusá-los, aceitando talvez somente aqueles enviados por uma pré-pré-agência literária cadastrada”. E, dito isto, o leitor-escritor vai explicando que não teria dinheiro para abrir qualquer negócio, pois o que possui não é suficiente “no momento nem para recarregar o cartucho de tinta e conseguir terminar de imprimir as 74 páginas de “A estrada dos andarilhos”. A tinta, vermelha, que é o que ainda tem, acabou na página trinta e quatro”.

Marco Lucchesi, essa alma cosmopolita, comunicou-me que aquela crônica ia “salvar a muitos de se atirar da janela, ou ponte, porque a situação é realmente dramática e quase desesperadora!!!”. Mas Gil Perini, que já teve livro publicado por esses dois heróis da vida editorial Cláudio Giordano e Plínio Martins, além de traçar um pertinente quadro da situação lítero-editorial, lembra que alguém já disse que “todo mundo que lê acha que pode escrever, e um dia teremos um autor para cada leitor, e a Biblioteca acumulará todo o lixo literário do mundo. Talvez, nesse dia, as pessoas receberão ao nascer um livro em branco, que irão escrevendo durante a vida, e que ninguém nunca irá ler”.

São auto-ironias legítimas, permitidas a quem está nessa luta há muito. E o mesmo Gil lembra soluções para o impasse que surgem aqui e ali. Tanto o “micreiro” que com algum rudimento de pagemaker consegue produzir um livro, até aquele senhor em frente à Biblioteca Nacional que vende qualquer livro a dois reais. Mas se alguém quiser ler um deles, basta pagar um real, algo “bem mais barato que uma sessão de cinema”. Ao final, ele se refere a um drama que muitos nem sabem que existe: o livro que morre na segunda edição, o livro que “chorou ao nascer, mas morreu no berçário”. Já Fábio Rocha, na área da poesia diz que resolveu (relativamente) seu exílio de poeta através da internet e com o e-book.

Clivânia Teixeira parte também para a ação, dando exemplo de intervenções “proativas”. Refere-se às rodas de leitura, contação de estórias e formação de hábito de leitura e de pequenas bibliotecas, e cita uma escola que pede de cada aluno dois livros por ano para ficarem na biblioteca: “Não precisam ser novos, basta que estejam conservados para que outras crianças possam lê-los”. Por sua vez, Luiz Faggini diz que se as grandes empresas mantivessem bibliotecas para seus funcionários, já seria uma grande coisa. A idéia tem lá seu peso de verdade, porque está demonstrado que as empresas que desenvolvem programas de leitura com os funcionários melhoram o rendimento e diminuem os acidentes de trabalho.

Já Sheila Soares, bibliotecária e socióloga, lembra que existe um certo desperdício nas ações de compra de livros por parte do governo: “Recebo doações da comunidade de Copacabana, ao fazer uma triagem, num universo aproximado de cinco mil livros, verifiquei que, de cada dez livros desempacotados, seis eram didáticos e pasme- in-to-ca-dos! Imagine isto no país todo. É fácil concluir que o que acontece com esses fabulosos recursos destinados, talvez 60%, à compra e distribuição de didáticos”.

Antônio Olinto, da Academia Brasileira de Letras e responsável pelo setor de bibliotecas da Prefeitura do Rio, conta de suas várias iniciativas criando bibliotecas em comunidades carentes, enquanto, agoniado, lembra que na Zona Norte há imensos bairros do tamanho de cidades sem livrarias e bibliotecas. Mário Pontes, autor, tradutor e editor relata sofridas e esperançosas experiências do Ceará ao Chuí. E, assim, poderia ir citando inúmeros outros e-mails que vão dramatizando a cena cultural brasileira. Experiências e idéias vão pipocando aqui e acolá, tentando minorar as frustrações. O fato é que só conseguiremos modificar esse quadro quando nos convencermos de algumas coisas. Primeiro, carecemos de um projeto sistêmico que a médio e longo prazo desenvolva ações em três direções: o livro, a leitura e a biblioteca. Governo só comprar livros de editoras, não resolve. Editar todo mundo que quer ser editado, não resolve. Desenvolver programas de leitura sem uma rede de bibliotecas e livro, não resolve. As três coisas marcham juntas. E é preciso evitar essa coisa desastrosa que é a descontinuidade administrativa nos órgãos que cuidam disto.

A questão está no ar. Precisa ser discutida. Na imprensa de antigamente dizia-se que certos temas mereciam uma “suíte”. Até quando será mais fácil ganhar na loteria que virar um escritor brasileiro?

No Caminho, com Maiakóvski

Uma vez, publiquei um trecho deste poema. Agora a versão integral, sem cortes!!!

Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!

o que dorme ao meu lado

Já perdi o norte da paixão, agora a Dama de Preto me vem em sonhos.

perturbando o meu descanso,
assombrando as sombras do meu quarto,
habitando o ínterim do bruxulear da televisão,
habitando o espaço úmido na minha cama,
habitando a distração entre um trabalho e o outro.

sonho com o rosto pálido,
as madeixas negras ou vemelhas.
o olhar triste, como quem precisasse de sol,
ou de sangue nas veias.

sonho com a voz etérea,
e ambas mudas quando a encontro.

te sonho, mas te temo
se um dia fores carne.

ou me matas, ou morre meu desejo.

e o ciclo recomeça.

o vazio quer o nada.

mais uma vez me encontro cabisbaixo,
achando que o mundo não é meu.

que minhas coisas não me merecem,
que o que tenho é acaso.

o que sei, não sei, apenas acho.
o que tenho, não mais, se perdeu.

o que escolho é o que me dizem,
o que pego é o acaso.

perdi o bonde da chance,
perdi a chamada da vida,

sou esboço sem arte,
arcabouço sem fundação.

sou aquele que não vence,
sou a última bebida.

sou a bile que arde,
pasmo diante da ação.

no espelho, nem reflexo.
na rua, nem impressão.
no gozo, sem sexo.
na vida, inexpressão.

me reinvento: sou máquina.

braço barato. ânimo cortado.
cérebro domado. verso rimado.
opinão contada. carne moída.
estatística batida. pessoa desistida.

Para Ana M.!!!!

Que cruze os mares, nau de carne.
Encontre porto em outros corpos,
faz da lágrima teu oceano e do gozo tua calmaria.

pois tempestades são filhas dos homens.

tua mente é meu mar.
teu desejo, o meu.

teu amor, meu destino.

desatino.


Boa viagem!!!!