De frente ao Copacabana Palace

// avec Romulo Marques

O Queer Kong não sabe se comportar nas conversas sobre jogos de futebol ou lutas sem barraca ou sem defesa contra o mundo. Se espreguiçava no caminho para Campos. Gelado. Não era verão, absolutamente. Apercebera-se das pessoas que o rodeavam. Levando consigo a semana, o mês, o ano, o mercado, as oscilações da bolsa e aeroportos. Como essa mesma gente vem lasciva, à vontade para levantar da areia sujar a praia.
Se perdeu ao mar. Largou a lata e cinco reais nos óculos do guarda dono da barraca. Viu darem um alento a quem estava no horizonte da praia, uma estação de petróleo e pés.

Os pés cavavam pequenos buracos nos valores, no preço do dólar, no salário, na família, no sexy vôlei de praia, nas flutuações da casa e nesse plano impossível. O rapaz com a barriga de moça com um biquíni havia estado mais horas vendo as nuvens cobrirem o sol da plataforma gelada.
Óleo e aposentadoria à beira-mar, as que faziam carinho nos dedos gomados dos vendedores de comidas no futuro, no passado, nos sonhos, nas praias. Água gelada. Areia gelada, tempo maresia. Mergulhou.

Voltou à areia gelado (quente). A nossa praia.

Acabou de beber a cerveja até à beira d’água. Respirou irregular, o tesão pelo outro, o olhar na barraca armada da areia. Deixou chinelos e mal se apercebera que o dia findava gelado gelado gelado. Era bom estar com os que viravam os olhos d’água na areia das vendedoras de amores, a promessa de luxo perdeu horas olhando o horizonte e mal se espreguiçou em direção a gente.

// para o projeto O Macaco Enxadrista de Jorge Rocha

Café cortado

// avec Romulo Marques

Que ele é vadio, um cachorro, um puto, todos sabem. Ardido nas costas e na virilha. Ele toma ossos amassados por causa do peso da mordida, gosta de deixar roxos, de dar na cara e a cara no café. O café que um dia esteve marcado na borra na xícara. A xícara ainda, ele concorda, e chupa o parceiro e dá a cara para foder como se fosse a punheta da manhã. É bom.

O café esfriou, o amante tomou outro após o gozo e quer apenas uma mão que é só punheta. O outro é que toma o banho a tapa. O outro vai e toma banho após o banho, mas não faz a barba. e ele gosta de banho para imaginar que amanhã é outro dia, outro café. Amante vai embora depois de tomar banho, mas um amante carrega o cheiro de seu parceiro no beijo da boca, nuns tapas na cara e no dito gozo.

O café vem depois do dia em que o chamar de puto. O cara aceita e goza quando outro despreza a memória dos dois no ato. Leva na cara, quando o outro vem de pau duro com cheiro de porra e suor e perfume transforma o outro em punheta. Sexo após o sexo, não livra-se da lembrança do quente, doce e cheio. Agora era apenas o cheiro dele ainda no cara. Um cheiro tinha um pouco do calor do café, assim como no sexo no dia seguinte. Quem toma banho?

// para o projeto O Macaco Enxadrista de Jorge Rocha

O Cara e o Café // versão direta

O cara e o café. O café, que um dia esteve quente e doce e cheio, agora era apenas marca da borra na xícara. A xícara ainda tinha um pouco do calor do café, assim como um amante carrega o cheiro de seu parceiro no sexo no dia seguinte. Quem toma banho após o sexo, livra-se da lembrança do outro, despreza a memória dos dois no ato. Transforma o outro em punheta. E sexo não é só punheta. O outro que toma o banho após o gozo quer apenas uma mão que o beije na boca, dê uns tapas na cara e diga que ele é vadio, um cachorro, um puto. E ele concorda e chupa o parceiro e dá a cara a tapa. Mas o outro vai e toma banho após o gozo.

O café é depois do dia em que o amante vai embora depois de tomar banho mas o cheiro dele ainda fica no cara. Um cheiro amassado nos ossos por causa do peso e meio ardido nas costas e na virilha. Ele toma banho, mas não faz a barba. E ele gosta de morder, deixar roxos, de dar na cara e me chamar de puto. O cara aceita e goza quando leva na cara, quando o outro vem de pau duro e fode como se fosse a punheta da manhã. E tem cheiro de porra e suor e perfume bom.

O café esfriou, o amante tomou o banho e amanhã é outro dia, outro café.

// para o projeto O Macaco Enxadrista de Jorge Rocha

súplica

me ama?

é por pouco tempo. mesmo. só uns 20-30 anos, os que me pouco que restam, já que mais do que isso, não quero. não preciso, não desejo. já que o fim é certo, que venha elegante, me levando no início do fim, que venha antes de eu não conseguir mais te dar o que merece.

me ama?

é com pouca intensidade, quase nada, com energia que mal dá para acender uma lâmpada, quiçá mover um peso, mas será o suficiente para me arrastar até tua cama, ou iluminar o meu caminho para o teu gozo.

me ama?

juro que tomará pouco tempo, uns minutos por dia, uns 360 no máximo. e não sou muito exigente. podem ser divididos entre o galâ da novela, os trabalhos que te deixam insone, os jantares não planejados e com o nosso filho que já me é um projeto

me ama?

não quero tua fidelidade, tua exclusividade. tudo que peço é uma migalha, um resto de fundo de pote, um cigarro pedido e amassado, um gole esquecido no copo. não quero a tua constância, somente a tua presença, ainda que inviável, ainda que inexistente.

me ama?

só preciso saber que um dia tive o teu amor, o teu querer, a tua lembrança. quero fazer parte da tua memória, do teu desejo ainda que renegado, ainda que descartado, ainda que descartado, des-car-ta-do.

agora vem e me beija. e obedeça.