Achei que não via mais caminhos à minha frente, que não havia mais motivos de caminhar. Queria me entregar ao tempo, envelher cem anos por hora, me tornar pó antes do meu tempo. Ser passado, nem presente nem futuro.
Queria que todos me esquecessem, os bancos, os cobradores, a família, os amigos, os inimgos… Queria me tornar uma coluna, dórica ou jônica, vertebral ou não… apenas servir de decoração à paisagem da vida.
E aí você me veio.
Aliás, nessas horas de tristeza, de verdades absolutas, quando o universo resolve mostrar ao homem o quão pequeno ele é, nessas horas em que o desespero se senta na cadeira atrás de você, quando as cores perdem intensidade e o grisê parece mais bonito, você vem, sem vir, aparece, sem se mostrar e abre as janelas da minha manhã desadormecida.
E eu penso, poesia!
Quase como se cantasse um blues, eu resolvo escrever por ti, apenas por ti. Pequena, dos cabelos desencacheados. Você para mim é rumo, as outras pessoas da minha vida são apenas complemento. E tenho a certeza que acordarei amanhã, ainda triste, pois a maldade dos adultos ainda dói o meu coração de criança, mas certo que viverei o dia.
Ainda sou um garoto aprendendo a usar os óculos…
Queria ter aprendido nesses trinta e poucos anos a ser um homem melhor e maior. Talvez você me ensine isso.