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Mais uma vez, tentei e não consegui.
Minha covardia calou minha boca, amarrou minhas mãos, embotou minha mente e falhei em abrir a alma.
Fechada, cerrada, minha paixão não se expressou, nem para o bem, tampouco para o mal.
Me resumo à minha incrível capacidade de não amar.

Você estava lá, à minha frente, e sequer tive coragem para lhe perguntar se me queres, se me aceitas.
Volto caído. Mais sombrio que a noite. Me rendo aos sonhos, desisto da carne.

O que preciso fazer para te ser teu?

Você já deve ter percebido que sou melhor escrevendo que falando. A distância fria da máquina facilita a minha comunicação.

O que faço com o que guardo dentro de mim?
Continuo me arrastando na sua sombra?

Sei que posso parecer bobo, e você já deve ter sacado tudo.
Faz 10 anos que você me tem na mão e não quer mais nada.

Acorda!

Acorda por que na vida, apenas a morte é certa.
Aprenda a viver o dia acordada, e à noite acalenta-te com o sono do dia bem vivido.

Acorda.
O dia tem que ser vivido por ti, não por outrem. À noite descansa.
Teu sono quando tens de sonar, quando chega a vida, acorda!

Desperta-te do teu leito, pois para descansar tens a eternidade, o dia é a tua vida e deixas o sono para quanto morreres!

Acorda, que te espero no meu leito e dormir não serás capaz de.

Chega!

Estou cansado da forma,
vista de fora, em forma,
olho o outro, espelho torto.

defeito do próximo, espelho da mente.

Encontro os sonhos, perdidos, doentes.

Já não quero mais o estilo,
quero apenas a essência,
em mirra, cânhamo, almíscar e aguarrás.

Já não quero mais o sonho,
quero apenas o fato,
em carne, cuspe, sangue e muco.

Teu beijo é meu sonho.

Teu sexo é meu sonho.

Teu eu é o meu sonho.

Te quero, vou ter.

O mundo me aguarde!

Sonetinho babaca

Ser um decassílabo com rimas na quinta
Talvez um parnasiano soneto
Nao mais preso na forma, na rima
sendo apenas do sentimento

Apuro o formão da palavra digital
preparo a palheta eletrônica
me torno além da natureza, artificial
repetindo os movimentos de forma mecânica

Nada sai que não seja formatado
nem o meu decassílabo sonhado
perdi no caminho da minha alma

Tempos se foram, embora meu caderno não ache
Grafite, caneta, estuque, nankin e guache
são técnicas mortas, escopo de alma