No caminho de casa, a rua desce em passos me lembrando dos amores rápidos e lépidos e frustrados. Foram muitos. Tantos que nem os consigo contar entre os passos do caminho para a casa. Os passos são memórias que insistem em me incomodar no caminho da rua para a minha casa. Às vezes pego o carro de praça para que essas memórias não me assombrem. Inútil. A memória não fica do lado de fora do carro de passeio. A memória é.
Ela é e meus fantasmas me seguem passo a passo.
Um passo (Angela, Marcela, Lara), outro passo (Julia, Luciana, Claudia), mais dois passos (Egle, Patricia, Libânia, outra Julia, outra Patricia, outra Marcela). Uma quadra, dez anos (Ana, Cláudia, Monica, Paula, Paula e Paula, Flávia, Cristina, Andreia, Inês), algumas promessas não feitas, alguns futuros perdidos, várias fodas adiadas. Duas ruas, casamentos, noivados, namoros (eu, eu, eu, eu).
Abro a porta da casa e estou só. Meus amores me trouxeram até aqui e me deixam só.
Finalmente minha concha alugada é minha, meus livros não lidos são só meus. As máscaras que enfeitam a minha sala compõem uma decoração perfeita para um farsante. As bebidas estrategicamente colocadas produzem a argumentação sexual necessária para um feio clássico, vintage.
Finalmente.
A casa é onde eu escondo o meu vazio, o meu espaço para mim mesmo. É onde me torno um vácuo das emoções, dos cansaços, dos planos e do sono. É onde a “máquina de moer gente” deixa de funcionar e o nada estrutural universal me dá tempo para entrar no oblívio entre as jornadas de trabalho. É o silêncio que preenche o meu vazio e me dá a noção – pela primeira vez em uma vida – de completitude.