Vencidos

publicado na Tribuna da Imprensa

– pós Arte no Escuro

Já fazia uns vinte anos que não se viam.

Era uma outra época, um pouco mais inocente mas ainda assim violenta. Fabrício tinha lhe ensinado a brigar na rua com canivete, faca e arma de fogo e a fazer ligação direta em fuscas e gols. E ele tinha ensinado a ele como chegar nas meninas, a beber as coisas corretas, a impressionar o outro sem ser pela truculência e a negociar o melhor preço em qualquer mercadoria.

Se separaram quando um resolveu entrar no tráfico e outro resolveu terminar o segundo grau. Um fugiu pra Manaus, fugindo dos traficantes do morro do Cantagalo, o outro começou a frequentar as festinhas alternativas no Crepúsculo de Cubatão.

Se falaram uma vez depois da viagem.

“Fala cara, tô de volta.” “Fabrício? É você?” “Cara, tô na merda e preciso da tua ajuda.” “Cara, quando, como e quanto?” “Cem barões, cara.” “Puuuutz. Não rola. Não tenho essa grana.” “Então tá. Valeu. A gente se esbarra por aí.”

Soube por um conhecido em comum que ele tinha sido encontrado em Vila Valqueire com dez tiros na cara. Reconheceram pelas digitais.

Vinte anos, portanto, e ele não tinha mudado nada: loiro, cabelos encaracolados e de olhos azuis como duas águas-marinhas. Pena que tinha o trato social de um rinoceronte. Talvez isso tenha mudado um pouco com o tempo, né? A vida dá muita porrada em quem não sabe andar acompanhado e não é leviana com quem resolve ser todo errado desde o momento que nasce.

Bom, tentou ser delicado. “E aí, cara! Quanto tempo! Quem é vivo sempre aparece!” Xiiii…

“É verdade! Como você tá cara? Me conta da tua vida!” Tinha um sorriso aberto e contagiante. Aliás, sempre teve. Só não tinha mais muitos dentes na boca.

“Nada de mais. Trabalho, casa, peguetes. Vamos parar ali prum chope com cocrete?” “Pô, formou! Só que tou duro, cara.” “Não tem problema. Tá na minha.”

Sentaram. Vários chopes. Parecia que era ontem, sabe? Mas não era e tinham muito assunto para colocar em dia. Ele contou do sumiço, da história que ouviu. O outro calou. Não quis comentar o porquê do ocorrido. Respeitaram-se. Noite caiu e o celular de um toca. O outro não tinha. Tiveram de se separar.

Na despedida, um olhar longo como se soubessem que aquele ‘até logo’ era um ‘para todo o sempre’.

“Cara. Como é que você foi me achar aqui no meio de Copa? Cento e vinte mil moradores. A chance é nula.” “Né não. Aqui é tua casa. Tua alma. Tu sempre foi assim.” “Como assim?” “Cara. Existem muitas Copacabanas. Tem uma que quer ser Ipanema, saca? Luxo, high society. É a que dá tesão e chama as putas e os gringos. Outra é uma Madureira com turista e maresia. Essa é tu. Nessa te procurei e te saquei.” “E a tua Copa, manu véio?” “Saca a dos aposentados e dos milicos de pijama? Das músicas de bossa nova e fossa?” “É a tua?” “É. A que tá morta.”

Deu um abraço no amigo.

Atravessou a rua.

Perdeu-se no mar de gente e largou a conta para pagar.

Sobre diferenças e semelhanças

publicado na Tribuna da Imprensa

O fôlego fora suficiente apenas para cruzar a portaria, pegar o elevador e entrar em casa. Abriu a porta de sopetão e desmanchou-se ali mesmo. Era só soluços e lágrimas ácidas. Levou poucos minutos para recuperar o controle sobre si mesma e menos para desmontar-se. Entrou no banho e deixou que a ducha quente lavasse a alma e as dores. Viu a espuma descer em redemoinhos no ralo. Pensava na vida e na morte da bezerra.

Não entendia como entrava sempre nesses mesmos rolos. Conhecia o cara, saía com ele, amavam-se alucinadamente como se não houvesse um amanhã e depois de um café da manhã no Garcia e Rodrigues (com sorte): beijo, tchau e nunca mais. Não que achasse ruim. Na maioria dos casos os sapos continuavam uns batráquios inexpressivos, não importando o quão ou como os beijasse. Ou onde.

Mas o que lhe incomodava mesmo eram os carinhas que aparentemente pareciam que iriam lhe ligar no dia seguinte, aqueles que esperava ter um algo mais, nem que fosse uma segunda vez. Ou uma terceira, quarta. Sabe-se lá.

Pior que esses: os que realmente ligavam! Ligavam, marcavam, saíam e eram melhores que antes, se superando a cada noite. Sempre uma surpresa, uma novidade: um restaurante da moda, um presente bem escolhido, um show especial e pimba! Cama e espetáculos pirotécnicos nos motéis da vida. Ou nos apartamentos cinematográficos. Ou nas casas discretas no Alto da Boa Vista ou na Urca. Mas tinha dentre essa turma toda, tinha um tipinho que era hors concours na canalhice e na perfídia: os que se apaixonavam por ela.

Ele era perfeito: bonito à medida exata, inteligente o suficiente para saber que não deveria ofuscá-la, elegante, sabia onde levá-la, tinha os programas corretos, conhecia as pessoas nos locais exatos, bem-resolvido financeiramente, disponível para os seus caprichos e um atleta sexual.

Então porque ela sentiu-se agoniada quando ele a deixou em casa? Não conseguia achar razão e só manteve o fôlego por questões de compostura e câmeras indiscretas nas áreas públicas.

Mais calma, quebrou alguns pratos e copos enquanto esquentava a comida. Xingou os cachorros que pouco tinham a acrescentar ao diálogo interno que ela travava. Sentou-se à sala, entre as almofadas e colocou um devedê aleatório no tocador. Rá! Manhattan de novo! PUTA QUE PARIU!

Encostou. Assistiu. Pegou o telefone.

“Não vai dar certo.” “Mas, qual o porquê?” “Não tem atrito.” “Hã?” Antes que se debulhasse novamente, desligou.

Apagou o número dele da agenda do celular.

Antes, porém: “Hmmmm… Ângelo. Acho que vou ligar para esse escroque!”

E assim achou o caminho para a sua felicidade.

Reveillon e revelações

Catinha passou o Dia de Ano comigo. Aliás, comigo não, com a avó com quem tem uma xipofagia afetiva. Tem várias histórias dessas duas, mas é para outra hora. A história de hoje é que a Catinha estava toda cheia de si com o vestido branco novo, feito por encomenda à costureira da casa. Toda prosa, toda princesinha para ver os fogos de Ano Novo à praia de Copacabana.

Dando onze e meia, a mesma rotina anual: xinga-se os elevadores como culpados das pessoas quererem sair no mesmo horário, xinga-se a multidão como se não fosse ela o motivo pelo qual a festa ser cada vez mais bonita e grandiosa, xinga-se a chuva que ameaça e não cai.

“Tá vendo, Catinha? É bom xingar o céu que evita a chuva de cair.” Diz o pai orgulhoso de revelar uma verdade científica para a filha.

“Você é tão bobo, papai.” Responde a filha, desmontando o pai que, de fato, é bobo.

Atravessa-se o mar de pessoas semi-alcoolizadas, desvia-se de cacos de vidro, arruma-se um local à beira-mar para assistir com conforto aos fogos desse ano. Espera-se a contagem regressiva em uma contagem desordenada da população.

“Dez, nove, oito…” Abre, espumante, abre! “sete, seis…” Cacete! A merda da espumante não quer abrir! “cinco, quatro…” POP! DROGA! Estourou antes da hora! “Três, dois, UM!”

Ê!

Daí banho de espuma em todos da família, da bisavó que desvia atrás do tio mais alto, aos “agregados” do ano que começam a cumprimentar a todos em volta.

A avó coloca a neta nos ombros e para que ela veja melhor o show pirotécnico. Daí uns minutos de esporro coordenado e clarões no céu, noto que Catinha está soluçando. Chego perto e ela aos prantos. Desço ela dos ombros da avó preocupada, coloco-a no meu colo.

“Tá com medo dos fogos, minha flor?” Ela faz que não com a cabeça.

“Tá com saudades da mãe, lindinha?” Ela faz que sim.

“Quer que eu ligue para ela?” “Não precisa.”

Tentamos, não conseguimos. Óbvio. Linhas congestionadas na virada do ano é algo com que se pode contar. E com as contas. E com o ausência do arroz-doce na geladeira que a avó-bisa fez para você mas que todos (menos você) da casa comem.

Cruzamos a Avenida Atlântica com ela ainda em prantos. Passamos num camelô que vendia pingentes luminosos de borracha macia.

“Pai, quero um!”

Sabia! Brilhou, é de pendurar no pulso ou no pescoço e tem forma de bicho, Catinha quer. Tentei explicar para ela que tirar dinheiro no meio da rua, àquela hora, era perigoso, que ela ia usar o badulaque por dez minutos e iria jogar fora logo depois, que a teoria da oferta e procura indica que o preço praticado para a aquisição do tal objeto de utilidade discutível seria acima dos limites praticáveis por qualquer pessoa de classe média baixa, bem baixa.

“Pai. Eu quero.” Disse entre soluços e lágrimas.

Comprei. Passei atestado de bobo, burro e molenga mais uma vez. Não tem jeito.

Andamos com cuidado, desviando dos cacos e das poças de líquido não-identificado. Chegamos em casa, lavamos os pés. Esperamos o resto da família chegar, deixei Catinha com a avó e fui para a minha festa de Reveillon.

Dia seguinte, mesmo cansados da noite anterior, enterramos os ossos da ceia e ficamos jiboiando na sala. Eu, no computador, Catinha, avó e bisa em frente à TV. Aliás, ela, suas bonecas, o cavalo alado, as fantasias de rastafari e odalisca. Tudo ao mesmo tempo.

Chega a mãe e o padrasto que cumprimentam a todos. Ela vem de mansinho e me dá um abraço looooooooongo, sem que eu o pedisse. Eu mal viro para o lado – tava matando gente virtual, vocês sabem como é, né? – e ela se vai.

Acabei a fase do jogo. Cadê minha filhota? Foi-se e não vi mais. Iria viajar primeiro para a casa da avó materna, depois para a casa do pai do padrasto, depois para a Lua, Marte e Vênus e só quando estivesse na hora de me apresentar os tataranetos, voltaria para casa.

Três longos dias depois ela manda uma mensagem SMS para mim: “Pai. Te amo e estou com saudades.”

Chegou da farra no meio de janeiro, toda arranhada nas pernas e nos joelhos, mordida de mosquitos e formigas, bronzeada de roça e com um sorriso enorme, cheio de dentes.

Aliás, sorriso diferente. Não era dela, mas lhe caía muito bem.

Foi na médica fazer a revisão com a avó (recomendação da mãe). Médica diz que ela amadureceu muito nesses últimos meses. Não é mais um bebê grande, já é uma mocinha.

Quando chegam, a avó me conta e me dou conta que não sei se disse àquele bebê que eu a amava. Não sei se disse o suficiente. Provavelmente não. De certo que não.

E só fica a lembrança do abraço apertado que eu não soube encarar.

A melhor amiga

“Não acho que você tenha de ficar ligando para ele a cada dez minutos. De tanto insistir, você pode acabar perdendo o que já conquistou.”

Era sempre assim, ela contava o que estava acontecendo com os casos, peguetes, rolos, namorados, namoridos e afins e ele tinha sempre o conselho correto.

“Mas ele é frio comigo.” “Pode ser timidez. Ou saco cheio. Você é uma pela-saco, né?” “Não fala assim comigo.” “Mas é verdade. Ou você segura muito o jogo com o carinha ou se arreganha logo de primeira. E não tõ falando de sexo.” “Porra! Você é muito grosso.” “Sou não. Um filho-da-puta, talvez. Mas sou sincero contigo e você sabe disso. Ou não estava aqui me pedindo conselho, fazendo o meu ouvido sangrar de tanta aporrinhação com os teus homens.” “Assim parece que eu sou um estorvo para você. Parece que eu te ligo só para encher o teu saco.” “E não é? Quando foi a última vez que você me chamou para um cinema ou a um teatro. Ou mesmo para um chope ou um café?” “…” “Pois é. Só sirvo mesmo para teu conselheiro sentimental. Você só não é pior que a outra, que só me liga para resolver problema de computador…” “Poxa. Assim fico chateada.” “É bom ficar mesmo. E aproveite dá um tempo pro carinha te procurar. Se ele estiver a fim, vai atrás de você. Deixa o outro correr solto. Afinal de contas nem namorando estão. Tão só na fase do ‘conhecendo um ao outro’.” “Ok.”

Deu dois dias sem perturbar o “peguete” que ligou regularmente e ficou tudo às mil maravilhas por mais seis semanas quando ela desencanou dele e já ia ligar pro amigo- confidente- grosso- que- só- sabe- dar- patadas- que- tá- sempre- certo quando resolveu desenterrar da agenda uma amiga de priscas eras: Carlinha.

“Querida! Quanto tempo!” “Pois é, você fica aí agarrada com o teu macho e eu ainda na guerra!” “Chope calcinha hoje? Dou um balão no mané e partimos pro álcool sem limites!” “Péra que vou ligar para a Martinha e a Ana e vamos pro Devassa!”

Chegaram, beberam, deram vexame, falaram bem dos homens da mesa ao lado e mal dos que dividiam suas camas, contaram do passado e mentiram sobre o futuro, quase foram expulsas por conta dos berros e dos palavrões. Um chope-calcinha perfeito. Na saída foi desovada em casa pela velha amiga. Subiram para tirar água do joelho.

“Nunca entendi essa expressão, Carlinha.” “Nem eu, amiga. Mas eu preciso senão o meu carro vira um bote.”

A amiga aliviou-se e foi para a sala. Ela já tirava o sapato e preparava dois copos de gim com soda limonada.

“Amiga, você quer me embebedar, é?” “Bêbada você já tá. Vou é dar jeito para que você não pegue de novo no volante. Quase me matou da Barra pra cá. Dá para você dormir no sofá daqui de casa na boa. Só liga pro teu bofe.” “Ligo porra nenhuma! Aquele filho da puta deve estar na cama de outra vagabunda!” “Menina! Que é isso? Não faz assim! Ele te ama, tá na cara!” “Ama nada! Também tô pouco me fudendo para isso. Temos um acordo em casa. Ele não me aporrinha e eu não encho o saco dele.” “Que merda.” “Nem é. Melhor assim que solteira na guerra. Não me leve a mal, Ângela, mas eu não tenho mais paciência. Todo cara tem um ou outro defeito. Deixei passar uns bons, fiquei tempo demais com uns muito ruins. O Iuri é galinha, mas vai sossegar.” “Desculpa amiga, mas eu ainda prefiro me arriscar e errar.” “Tudo bem. Sei que você é teimosa mesmo.”

Acordou na sala com a mãe de todas as ressacas. O telefone tocava e era o amigo-confidente-etecetera-etecetera.

“E aí sumida. Como você nunca me chama para porra nenhuma, te chamo para almoçarmos no Parque Lage. Topa?” “Não beibi, tô com uma ressaca monstruosa e a Carla tá aqui comigo.” “Ah! Ok. Então fica prá próxima, tá bom?” “Espera. Me responde uma coisa.” “Fala… lá vem bomba.” “Nem é. Olha só. Por que você tá sempre certo?” “Hein?” “É. Por que você está sempre certo nas coisas que fala para mim?” “Uai. Eu te disse isso. Sou o dono da verdade. Eu estou SEMPRE certo, não erro.” “Para de babaquice.” “Não é. É a minha sina. Mas você nunca quis saber disso, né?” “Você bobo.” “Nem sou. Você é que nunca quis me conhecer de perto, a fundo. Mas isso é história de cinco anos atrás quando eu te cantei pela primeira vez e levei um toco homérico.” “Foi? Nem lembro.” “Pois é. Bom. Quando estiver recuperada da ressaca ou da amiga, me liga.” “Beijo.”

Rolou pro lado para tentar dormir. Empurrou a amiga com a bunda para arrumar mais espaço no carpete. Fritou ali por dez minutos antes de decidir tomar um banho, vomitar e engolir uns comprimidos.

Preparou o café da manhã e esperou Carlinha acordar. Pensou na vida que ela levava e se lembrou de como o conheceu. Nas festas de Martinha sempre tem carne nova e interessante. Ô mulher para conhecer homem. Ainda bem que ela é gay. Ainda bem que nem todos os amigos também são.

“Oi. Meu nome é Hermes, tudo bom?” “Ahahahahahaahahaaha! Você vende calcinhas pelo correio?” “Haha! Não. Só tive o azar de ter nome de deus grego. Ou não!” “Só o nome, né?” “É. Quase. O corpo deixa um pouco a desejar.” “Hahah. Você é bobo!” “Você diz isso porque não me viu só de meias. Ainda.” “Hahahahaha. Nem vou.”

Aí começou a amizade. Ele realmente não era nenhum Apolo, mas não era nenhum Quasímodo. Não era rico, mas tinha um bom emprego – “trabalha com livros ou com programas de computador ou uma lojinha.” Apesar de sempre andar duro da silva sauro, freqüentava os lugares da moda, sempre tinha um livro debaixo do braço e sempre, por mais irritante que fosse, sempre estava certo em tudo que ela teimava em discordar.

Cantada? Ela não se lembrava disso. Se bem que já pegara ele perdendo o olhar em um decote seu ou de uma olhada mais assertiva quando ele contava um caso. Se bem que ele pouco falava de seus casos. Ao menos não citava nomes e tal.

Olhou para a amiga, ainda inerte no mesmo canto de quando se deitaram para ver o devedê da sexta temporada de Sex and The City, abraçada ao que restou da garrafa de gim. Olhou para o telefone e ligou para ele: “Oi. Te encontro em trinta no Parque Lage.”

Damien Rice – Cannonball

Still a little bit of your taste in my mouth
Still a little bit of you laced with my doubt
Still a little hard to say what’s going on

Still a little bit of your ghost, your witness
Still a little bit of your face I haven’t kissed
You step a little closer each day
That I can’t say what’s going on

Stones taught me to fly
Love, taught me to lie
Life, it taught me to die
So it’s not hard to fall
When you float like a cannonball

Still a little bit of your song in my ear
Still a little bit of your words I long to hear
You step a little closer to me
So close that I can’t see what’s going on

Stones taught me to fly
Love, it taught me to lie
Life taught me to die
So it’s not hard to fall
When you float like a cannon..
Stones taught me to fly
Love, it taught me to cry
So come on courage
Teach me to be shy
‘Cause it’s not hard to fall
And I don’t wanna scare her
It’s not hard to fall
And I don’t wanna lose
It’s not hard to grow
When you know that you just don’t know

é… fudeu!

Brincadeirinha para passar tempo

Dando continuidade à corrente, prossigo daqui.

Quatro empregos que você já teve:
1. Operador de sistemas de CPD (digitador, trocador de papel de impressora, aspone digial)
2. Game designer
3. Editor de arte
4. Gerente de projetos

Quatro filmes que você poderia assistir infinitamente:
1. Manhattan
2. Porco Rosso
3. As Invasões Bárbaras
4. A Fantástica Fábrica de Chocolates (a primeira versão)

Quatro lugares em que você morou:
1. Méier – Rio de Janeiro – RJ
2. Copacabana – Rio de Janeiro -RJ
3. Asa Norte – Brasília – DF
4. Rio Cumprido – Rio de Janeiro -RJ

Quatro programas de TV que você adora assistir:
1. Jornal Nacional
2. BBB (sim, eu confesso… adoro baixarias e mulheres semi-nuas)
3. Justice League Unlimited (aliás, qualquer desenho das séries da DC da Warner)
4. The Shield

Quatro lugares em que você já esteve de férias:
1. Tebas, MG
2. Caldas Novas, MG
3. Belo Horizonte. MG
4. Guarapari, ES

Quatro blogs que você visita diariamente:
1. Liberal, libertário, libertino
2. Uma dama não comenta
3. Malvados
4. Order of the stick

Quatro de suas comidas favoritas:
1. Omelete à la Zander
2. Carré à Mineira
3. Salada Caprese
4. Porpeta à bolognese

Quatro lugares em que você preferiria estar agora:
1. Em casa, do lado da minha filha.
2. Lisboa
3. Dublin
4. Na cama da Charlize Theron com ela vestida de Aeon Flux e… (melhor parar por aqui…)

Quatro discos sem os quais você não pode viver (hoje):
1. O – Damien Rice
2. Bye Bye Beauté – Coralie Clément
3. Revolver – The Beatles
4. Pet Sounds – The Beach Boys

Quatro carros que você já teve (todos são ou foram Matchbox):
1. Batmóvel
2. Porche Carrera GT
3. Jaguar 1967
4. Lamborghini Countach

Nothing – Nikka Costa

It’s late in the evening
And you’re breathing with someone else
You come home to call me
And I ask you what you’ve been doing with yourself
And you say nothing at all
You say nothing at all

You flight is longer that usual
And you conscience ain’t no company
I’m there smiling and warm i missed you so
And can’t wait to show you how i feel
But you feel nothing at all
You feel nothing at all

There we were
Never strangers before
There was a light that shined on us
But now there’s nothing at all

You should’ve taken a look around
Before you laid that woman down
You better get a hold of yourself
Cause there’s a woman here
Who’s willing to try

Weeks go by
And you mind seems preoccupied
I feel a piece missing here
But when I ask you about what’s going on
You say it’s all me my dear
So I thought nothing at all
I thought nothing at all

You should’ve taken a look around
Before you laid that woman down
You better get a hold of yourself
Cause there’s a man in you
About to die
With nothing
With nothing

Epifania

Largou a caneta em cima da mesa e olhou para a janela defronte da baia de trabalho. Tinha um brilho no olhar de quem acabara de ter uma revelação transcendental ou estava prestes a comprar uma arma automática no shopping center. Levantou-se com majestade e deu adeus aos colegas de trabalho.

Surpreendidos pela atitude do colega às quatro e meia da tarde, perguntaram se ele teria alguma reunião fora da empresa ou algum compromisso inadiável. Ele assentia silenciosamente com a cabeça e nada esclarecia. O gerente veio interpelá-lo mas ele apenas o empurrou delicadamente para fora do seu caminho. Mais tarde o chefe iria dizer que ele sentira a pressão antes mesmo do funcionário o tocar. Na verdade tinha dúvidas se ele havia tocado-o ou não.

Ao sair pela recepção foi encarado por três mulheres que há muito cuidavam de sua vida.

A mais velha, quase desmanchando em sua própria respiração, lhe desejou que os dentes nunca caíssem. “É difícil macerar a comida apenas com as mãos. Tuas presas têm de cortar o couro, rasgar a carne. Senão ficas confinado às papas, às gorduras e ao sangue de tua caça.”

A mais nova, viço sobre e lascívia sob a pele, lhe desejou que o seu membro nunca vergasse, e que sua seiva fosse sempre fértil. “És o pai de uma estirpe. Herdarás os céus e as terras sob o firmamento.” Lançou-lhe um olhar cobiçoso antes de se juntar às outras duas.

A do meio nada desejou. Apenas abraçou-o e lhe beijou a fronte. “Segue. Sê!”

Agradeceu as bênçãos e seguiu o caminho por entre o sertão. Já não lançava mais a sua sombra por onde caminhava. Seguia o caminho do asfalto, a estrada das pedras negras brilhantes, até o Oeste onde o Rei Sol se punha.

Antes de chegar nas montanhas que guardavam o santuário do Solar, ele percebeu que era seguido de perto, por uma criança que lembrava a si mesmo quando não sabia limpar as próprias fezes.

“Ei! Bunda-suja não!”

Estendeu a mão a ele e continuou caminhando sob o calor de cinqüenta graus.

Acordou suado, na sua própria cama, atrasado para o ônibus do trabalho. Se arrumou com pressa e conseguiu chegar no horário. Manteve a sua rotina natural entre relatórios, contas a pagar, contas a receber, cálculos de dividendos e o rombo na sua própria conta bancária – nunca entendia por que era tão bom com o dinheiro dos outros e tão ruim com o seu. Deu horário do almoço, engoliu o MacLixo com os colegas de trabalho, contou piadas de terceira mão, comentou do episódio insosso de um enlatado engraçadinho da TV e voltou contando os minutos para bater o ponto.

Antes de entrar no prédio, virou-se para o pequeno jardim que existia na frente do prédio. Olhou o sol refletido no lago imundo. Viu-se pequeno ali. Lembrou de um tempo em que não hesitaria em pular dentro dessa poça infecta para aliviar o calor de quarenta e poucos graus que fazia na Barra da Tijuca.

Olhou para os amigos enternados e engravatados. Olhou para si mesmo, mais “institucionalizado” que nunca, puxou a foto de um antigo amor que guardava na carteira. Berrou um sonoro “vai tomar no cú!” com acento e tudo para a turba que o olhava incrédula, pensando em se tratar de mais uma maluquice, e correu para fora.

Pegou a primeira van que o levaria para Copacabana. Saltou ao chegar no posto 4. Tirou o terno e a gravata, desnecessárias ali no calçadão da praia. Pediu um chope, o jornal emprestado.

Em algum lugar a criança estava rindo.

Daniel na Cova dos Leões – Legião Urbana

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
E forte, cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está la porque não vemos