Rotina

Acorda cedo, antes do sol. Atravessa o vão dos sonhos e pisa na realidade morna-fria. Antes de chegar no banho morno-quente, já se despe da noite passada. Deixa as águas lavarem o que restou dos amantes. Sai, renovada, outra mulher, outra pessoa. Toma para si o nome do batom que vermelhava na pia. É mulher, não-menina.

Volta tarde, bem depois da prima estrela. Atravessa o beco do idílio e se arremessa no copo do consolo. Acaricia a possibilidade da solidão, mas se lembra dos possíveis outros. Opta por ambos. Atira-se para o nada, o perdido, o baticum repetido das mãos sem nome, das bocas sem propostas, das coxas (ah! as coxas!) rijas, das partes – pudicas ou não! – (ah! o pudico poder).

Adormece sem saber como, sem querer, num eterno não-acordar.