poucas certezas

São duas, na verdade.

Uma: as pessoas procuram padrões, padrões transformam-se em causas, em motivos, conspirações. Transformam-se também em deuses, empresas, metas, objetivos de vida, razões e destino. Procuram padrões para se reconhecer, para demonstrar que sabem o como, onde e porquê da vida inteira. Padrões viram ciência, filosofia, teologia, senso comum, bullshit, argumento, retórica. Não conheço ser humano que consiga viver no definitivo caos.

Duas: as pessoas querem deixar um legado. Sobre isso poderia falar bem mais, mas prefiro resumir que cada um quer deixar uma boa história para ser contada. Talvez uma pela qual pudesse ser ninado.

Missiva à moça que é uma outra

Saudades de tu, minha querida.

Já faz um bom tempo que não nos falamos, não nos escrevemos, não nos perturbamos mutuamente com as questões mundanas e eternamente irresolvíveis. O Bardo Inglês se desdobrou em pena, tinta e pergaminho (ele usava pergaminho ou papel?) e falou eternamente sobre os mesmos assuntos que conversamos hoje em dia. Mesmos assuntos, personagens diferentes, quinhentos anos de intervalo, mesma merda.

Pois é.

Hoje em dia não é diferente. Coloco aqui as binárias formiguinhas escreventes para mandar mensagens nesse mar de estática que se tornou o coletivo de blogues, jornais e fanzines digitais. Nem rascunhar com destino certo essa joça serve mais, mas tudo bem. O outro lá, na corte da Elizabeth, a Tudor, tinha um público certo e definido, mas não sabia que estava fazendo algo que iria ser a síntese da psique moderna. De certa forma, mirou na num trono e seus baba-ovos e acertou na humanidade inteira. Fez bem, o diacho.

Eu tenho tido dias de intermezzo, saca? Como aquela musiquinha entre os intervalos entre os atos de uma peça – ou na troca dos rolos de filmes antigos, na França. Eles vêm como quem não quer nada porque já sabem que a história grande foi contada antes e não contarão coisa alguma agora, porque o devir é mais interessante e tá guardado para mim. Assim é a sensação: de que algo que era esperado, sonhado, está arrumadinho ali, no fim da década, para se fazer presente.

Engraçado como um sinal pequeno pode ocasionar um efeito grande. Não vou fazer apologia ao “efeito borboleta” mas um email enviado, uma festa, um olhar, podem mudar a vida em cento e oitenta graus e anunciar um novo mundo, um novo futuro.

Daqui, do alto das minhas quatro décadas incompletas, me empolgo com o porvir, mesmo sabendo que não sobreviverei ao que se anuncia.

Antecipadamente apaixonado pelo futuro, me despeço, querida moça.

Amo-te.

E chega a inefável e inexorável mensagem para o ano que vem

Pois bem, já sabemos que todo ano eu preparo uma indefectível mensagem por conta da experiência inefável da virada de ano.

E todo ano exprimo um desejo diferente. Já quis que o ano fosse mais humano que nunca, que tivesse 366 dias, que nada acontecesse, que eu mudasse por dentro e que eu me tornasse uma pessoa melhor.

Isso tudo já aconteceu de alguma forma, melhorei, piorei, mudei, continuei o mesmo, nada aconteceu, já tive minhas dezenas (muitas!) de 365 dias e muito mais.

Pra todos, para 2010 que chega, eu espero apenas que ele termine, dado que é início de tantas outras coisas.