Sonhos esquisitos

Office Politics: A Rise to the Top

Hoje eu sonhei que morria. Quer dizer, mais ou menos. Sonhei que estava numa empresa – era a atual, mas não era, era com as pessoas com quem trabalho, mas não era… entende? – e as pessoas eram chamadas pelo RH e nunca mais voltavam. Eram demitidas, sabe? Começou pelo meu coordenador, depois minha gerente, meu diretor e a galera que estava em volta de mim.

Daí eu saí da sala para ver o porquê de terem parado de nos chamar e entendi que a empresa para que eu trabalho(ava) tinha deixado de existir uns dez anos já. Não tinha ninguém mais lá.

Acordei descobrindo que estava morto. De novo.

Dois caras (ou uma divagação breve sobre a genialidade)

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“Dois conhecidos se reencontram trinta anos depois. Brincavam juntos nas areias de Copacabana, quando tinhams menos de dois dígitos de idade. Um deles, filho de um médico, tornou-se um famoso economista, conselheiro de nações, gênio mundial, outro escolheu a felicidade do dia-a-dia. Almas gêmeas.”

Eu ia escrever uma crônica, talvez extensa, sobre esse encontro e iria derramar tinta por conta de um diálogo que imaginei no caminho para o trabalho. Mas alguém vem e faz o trabalho por mim.

A genialidade não está pensar, imaginar, bolar. Tampouco em fazer acontecer. A genialidade está no in between, é desapercebida para quem é, óbvia apenas para quem admira.

Como um quadro. Como uma frase. Uma tagline.

Urbanóides – o livro

Gente,

Urbanóides está disponível para download GRATUITAMENTE e está protegido pela licença da Creative Commons. Ou seja: se você quiser copiar, imprimir, dar de presente ou fazer qualquer coisa que não envolva cobrança ou alteração no texto, está liberado.

Só peço que mantenham os créditos e o link pra cá (http://pelamor.com.br/urbanoides). Comentários, críticas e pedradas digitais também são bem-vindas!

Para baixar o livro, basta clicar na imagem abaixo ou ir na página da editora Os Viralata para fazer a descarga. Valeu a atenção!

Ah! por favor comentem e critiquem. O alento do blogueiro pobre é o comentário de cada dia.

Urbanóides

obs: agora dá para ver no próprio browser aqui.

Ciclos divertidos

Eu gosto de pensar que a vida é cíclica, que as coisas funcionam de acordo com alguma ordem pitagórica, arcana, e eu costumo ver (ou imaginar) uma repetição em alguns padrões.

Com as fodas, eu gosto de imaginar os ciclos em três noites, três eventos, três coitos.

A primeira foda é a da descoberta. Não tem aviso: nunca se sabe se a moça está de fato a fim de praticar o arcaico esporte bretão ou não. Se é daquelas que sabe bem que sexo é divertido, atlético, lúdico ou se é uma das que gosta de romance, de olhinhos virados pro alto quando o moço diz que escreve poesia e que pinta aquarelas.

Normalmente, essa foda é urgente, desesperada. É pura explosão, desastre, acidente, gozo desvairado, afobado, dedos intrometidos, nãos ditos com vontade de sins, bocas arritimadas e uma sucessiva quebra dos protocolos de decoro público.

Normalmente é maravilhosa ou ridícula. Dificilmente fica no meio-termo.

A segunda trepada (se houver) é aquela combinadinha. “Eu te ligo e depois esticamos” ou “passa aqui em casa, estou meio com preguiça de ir para a rua” ou ainda “eu fiz um prato sensacional hoje, pensei em você para jantar comigo”. Todos ali já sabem o que irá acontecer e a coisa flui num outro ritmo.

A segunda é uma coisa de língua exploradora, mão precisa, toques estratégicos, paciência até chegar ao quarto, dedos melhor colocados, músicas no fundo do ambiente, convesas durante todo o tempo que se consegue articular algo.

Obviamente eles ficam pelados na maior parte do tempo e são discretos até os berros e gemidos exagerados, ao gosto de cada um.

Na terceira é que se decide se haverá a segunda novamente ou não. É a “prova final” do relacionamento que se rascunha. Mas, na norma, é expectativa da próxima vez de um lado, e olhar triste de “finitum est” do outro.

Esse é um texto-mulher

Escrevi hoje cedo que é difícil “levantar é difícil não pelo esforço das pernas, que essas já estão acostumadas ao esforço de carregar o corpo, mas pela vergonha da queda”. Especialmente quando essa dor vem da maior humilhação, daquela que é perpretada diariamente por nós e não nos damos conta até o momento em que deixamos de ser sujeito e passamos a ser o objeto direto.

Tenho amigas que não sabem quando parar de doer uma ferida. Principalmente aquelas que já passaram do prazo. Ser preterido é uma merda, fato. Mas quantas e quantas vezes não fizemos isso com quem passou por nós? pelo carinha que era legal, beijava bem mas era meio mala, meio gosmento. Pelo gordinho que até tinha pegada, mas era flamenguista (ou corinthiano, ou cruzeirense) e ela tinha meio vergonha de ficar com ele na frente dos amigos.

Foda adiada, meu amor, é foda perdida, como diriam os amigos do bas-fond. Aquele amor passado é amor perdido, não tem mais volta. Não com a mesma cara, não com o mesmo fulgor. E quando o rapaz não te quer mais, não adianta ficar cutucando a chaga com cigarro aceso. Não adianta ficar remoendo os momentos ruins, as palavras meio ditas, o “o-que-fiz-de-errado” vivido. É passado já, beibi. Já era.

O lance é chorar a dor do amor verdadeiro, chorar a morte do que foi bom e nunca mais será. Daí é colocar a melhor roupa, chamar as amigas mais periguetes, cair na noite e deixar a vida acontecer.

Algumas considerações sobre religião

Sou ateu na prática e agnóstico por reconhecer a limitação do ser humano em compreender o universo em sua totalidade. Isto posto, tive uma educação que misturava “sabores” do cristianismo: do catolicismo (fui coroinha de igreja) ao espiritismo, da umbanda/candomblé (sim sim…) ao “ocultismo clássico” (Blavatsky, Crowley, Papus, etc.) e ao decidir a educação “espiritual” da minha filha, não titubeei: meti-a em uma escola católica. Por quê? Para ela ter o referencial comum brasileiro. Para ela ser educada à base comum da sociedade que ela vive. Para ela não ser um pária. Para ela ser um igual entre tantos.

Etecetera. Etecetera.

Fui contra batizá-la. Fui voto vencido. Eu achava que seria lindo ela (se quisesse) ser batizada durante a primeira comunhão. Não rolou e foi lindo da mesma maneira.

No fim da história, espero que ela desenvolva um senso crítico e entenda por fim que religião é o conforto que alguns têm para o inesperado, para o acaso, o improvável. A certeza defronte do incerto e inexorável.

Ou que apenas seja mais uma hipócrita dentre milhares.

Sóis que nascem e sóis que se poem

Charile Brown
Charile Brown

E o menino me contou que fazia tempos que não se apaixonava e que o motor de sua vida era a paixão. Não se encantava mais com poer do sol ou o seu renascer, doze horas depois. O verão desanimava-o e o inverno trazia as lembranças de uma infância feliz.

E era essa a chave que cerrava o mistério de seu cenho torto e anguloso: fora uma criança tão bela, tão feliz mesmo nos anos de chumbo, mesmo no calor do méier dos anos setenta, mesmo na pouca grana e nos brinquedos comprados com muito suor pelos pais e avós.

Mesmo na miopia que impedia que soltasse pipas, ele ficava imaginando-as voando e os outros meninos nos telhados correndo por uma aventura de papel, linha e varetas de pau, duelos em pleno céu azul sobre zinco e telhas quentes. Depois o salto para o asfalto e a corrida com chinelos destruídos por conta do chão que turvava o ar. Ele olhava e imaginava e invejava e rezava pelo outono.

E o menino vivia um idílio de céus cianos e amendoeiras e marimbas e piões e bolas de gude. Tinha desenho animado em tevê branco e preto, tinha globinho supercolorido e leite com café e pão molhado. Tinha sorvete em lata redonda e picolé de limão quando ia à praia.

Um certo dia ele entrou na escola e viu a menina de olhos azuis. Naquele momento algo morreu dentro dele e explodiu em sonhos de gente grande. Queria ser pai, marido e cientista. Queria ser inventor, rico e andar de mãos dados com a moça loira de olhos azuis. Apaixonou-se.

Os sóis que nasciam ou se punham não mais faziam sentido, as pipas ficaram turvas e desfocadas, as bolas de gude, bobas e as crianças da rua, enjoadas. A aula ficou mais interessante e a horas se esticavam entre os olhares de soslaio da menina. Que obviamente nunca lhe deu bola.

Mas não importava. O frisson de sentar a uma carteira era o que movia o seu querer dali para frente. Viciou-se em paixão.

Dos inícios que flertam com o fim

Uma amiga me perguntou como eu conseguia advinhar quanto tempo durava um relacionamento – meus e dos outros – com alguma precisão. Obviamente eu não sou onisciente e nem tenho uma taxa de acerto razoavelmente alta, cientificamente alta, mas como tudo que envolve o sentimento, os acertos contam mais que os erros.

Daí eu expliquei que todo relacionamento tem uma “matemática”. Já escrevi sobre isso antes e acho que consegui sintetizar isso hoje. As regras são simples e são cinco ou seis.

A regra primeira diz que é necessário ter algo em comum. E esse algo tem de ser dentro de casa. Gostar de shows, filmes, bares e amigos e atividades na rua é legal, mas sob um teto a coisa muda de figura. Se os relacionantes não conseguem fazer um bocado de nada juntos, diminui-se o tempo do relacionamento.

A regra segunda diz que eles têm de ter alguma discordância. Mas daquelas brabas, que cause brigas, tapas na cara ou ódio eterno. É no atrito que se aprende a negociar os espaços, a ceder, a treinar a tolerância. Mas ambos têm de ter isso ou o lado cedente acaba cansando.

A regra terceira diz que eles precsiam achar que o outro é melhor que eles em algo ou em tudo. Mas tem de ser mútuo. A admiração pelo outro é o que impulsiona o dia-a-dia. Caso contrário, o outro vira objeto de escárnio e qualquer opção fora do relacionamento acaba valendo mais a pena. Novamente ambos precisam achar que o outro é melhor, senão o caldo desanda.

A regra quarta diz que ambos têm de ter um nível sócio-econônico-cultural próximo um do outro. Mais cultural, sócio ou econômico dependendo da índole de cada um. Nada contra uma pessoa ser sustentada mental, social ou economicamente pela outra, mas há de ter troca entre os relacionantes. Já conheci casais perfeitos que sucumbiram à dureza, à burrice ou ao isolamento social. Não nessa ordem.

A regra quinta diz todas essas regras anteriores devem e serão quebradas em algum momento e nunca serão sempre observadas durante os relacionamentos que tivermos pela vida.

E a sexta, a derradeira e única absoluta, é que só se entra num relacionamento sabendo e esperando que um dia ele acabe. É a única garantia de que será infinito, como diria o poetinha.